segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Como ter grandes ideias




À procura de grandes ideias

Aquilo que diferencia as pessoas comuns de Thomas Edison, Pablo Picasso ou até mesmo de Shakespeare não é a capacidade criativa, mas a aptidão para impulsionar essa capacidade, encorajando e desenvolvendo im­pulsos criativos. A maior parte das pessoas raramente atinge o máximo do seu potencial criativo. Creio que sei porquê e que posso ajudar a de­saferrolhar esse reservatório de ideias que se esconde em cada um de nós.

Comprovei esta teoria no seu ní­vel mais primário em pesquisas de laboratório com pombos: em expe­riências realizadas há alguns anos, eu recompensava-os com comida por subirem para uma caixinha e darem uma bicada numa banana de imi­tação que se encontrava suspensa sobre as suas cabeças. A seguir, en­sinei-os a empurrar a caixa pelo chão e finalmente confrontei cada um deles com um problema: a banana foi suspensa fora do seu alcance, e a cerca de 45 cm do ponto imediata­mente abaixo desta coloquei então a caixa.

Em tal situação, um pombo adop­ta um comportamento muito seme­lhante aquele que nós adoptaríamos. Ao princípio fica confuso, andando para trás e para diante, esticando-se em direcção à banana. Um ou dois minutos depois, começa a empurrar a caixa, parando exactamente no local adequado. Então, sobe para ela e alcança a banana para a bicada.

Se um pombo consegue fazer is­so, imagine as possibilidades de cada um de nós. Um quebra-cabeças cuja solução observei foi o de alguns es­tudantes que precisavam de tirar uma bola de pingue-pongue que caíra no fundo de um cano de escoamento vertical fechado em baixo. Os meios de que dispunham ou eram dema­siado curtos para alcançar a bola ou largos demais para caberem no ca­no, onde também não entrava mão alguma. Por fim, alguns deles fize­ram a ilação «cano = água = flutuar». Deitaram água no cano e a bola flu­tuou até chegar ao cimo. Esta e muitas outras experiências tanto com pombos como com pes­soas sugerem-nos formas concretas de fomentar a criatividade em to­dos nós. Aqui estão as melhores técnicas:

Agarre o transitório.

Uma boa ideia é como uma lebre: passa por nós tão depressa que às vezes só lhe conseguimos ver as orelhas ou a cauda. Para a capturarmos, é preciso estar­ mos alertas. As pessoas criativas es­tão sempre atentas a tudo e esta po­derá ser a única diferença entre nós e elas. Numa carta a um amigo, em 1821, Ludwig van Beethoven narrava a for­ma como pensara num cânone en­quanto dormitava a bordo de um coche. «Mas, mal acordei, o câno­ne já se desvanecera e eu não con­seguia recordar nenhuma das suas partes.» Felizmente, para Beethoven e para nós, no dia seguinte e no mesmo coche, o cânone voltou-lhe à me­mória, e desta vez o compositor ano­tou-o.

Sempre que uma boa ideia venha ao seu encontro, anote-a, nem que seja na mão. Nem todas elas serão válidas, obviamente, mas o que inte­ressa é agarrar a coisa primeiro e desenvolvê-la depois.

Sonhos diurnos.

O pintor surrea­lista Salvador Dali estimulava o seu potencial criativo deitando-se num sofá segurando numa colher. No preciso momento em que adorme­cia, deixava cair a colher em cima de um prato que tinha colocado no chão. O barulho acordava-o e o artista de­senhava imediatamente as imagens que observara nesse mundo fértil do sono parcial. Todos passamos por esse estranho estado transicional e podemos tirar vantagens dele. Experimente o tru­que de Dali, ou permita-se apenas sonhar acordado. Na cama, no banho ou em qualquer outro sítio on­de possa estar sem que os seus pen­samentos sejam incomodados, veri­ficará que as ideias vêm à tona quase espontaneamente.

Procure desafios.

Quando se está preso atrás de uma porta trancada, todas as acções que nos poderão libertar surgem rapidamente: empur­rar ou puxar a maçaneta, bater na porta ou mesmo gritar por socorro. Os cientistas chamam ao recurso de recorrer a antigos comportamentos, numa situação de desafio, «ressur­gência». Quanto mais atitudes ressurgirem, maior será o número de inter-relações possíveis, o que tornará mais provável a ocorrência de no­vas ideias. Experimente convidar para uma festa os seus amigos, colegas de em­prego, gente oriunda das diferentes esferas em que vive. Junte pessoas de duas ou três gerações diferentes. Es­se procedimento vai levá-lo a proce­der de novas maneiras. Edwin Land, um dos inventores mais prolíficos dos EUA, atribuiu à sua filha de 3 anos a ideia que levou à criação da máquina Polaroid. Du­rante uma visita a Santa Fé, no No­vo México, em 1943, a criança per­guntou-lhe por que razão não podia ver a fotografia que o pai acabara de tirar. Ao longo da hora que se se­guiu, enquanto Land andava por San­ta Fé, tudo o que aprendera sobre química veio-lhe à cabeça, com resultados extraordinários. Conta o in­ventor: «A máquina e a película para fazê-lo tornaram-se claras para mim. Apareceram de uma forma tão real no meu pensamento que passei vá­ rias horas para descrevê-las.»

Coloque objectos novos e fora de contexto (como brinquedos infan­tis) na sua secretária. Mantenha sem­pre massa de moldar na gaveta de cima e mexa nela sempre que esti­ver a debruçar-se sobre um proble­ma difícil. Vire as fotografias ao con­trário ou ponha-as de revés. Quanto maior for a diversidade dos estímu­los que recebermos, mais depressa a nossa mente inventará ideias novas.

Alargue os seus horizontes.

Muitos avanços na ciência, na engenharia e nas artes misturam ideias de campos diferentes. Veja o «problema das duas cordas»: duas cordas estão pendura­ das do tecto com uma boa distância entre si. Mesmo não conseguindo alcançar as duas ao mesmo tempo, será possível amarrar as suas extre­midades utilizando apenas dois ali­ cates?

Um estudante universitário des­cobriu a solução quase de imediato: amarrou os alicates a uma das cor­ das e empurrou-a como se fosse um pêndulo. Enquanto esta balançava para trás e para a frente, correu para a outra e levou-a para a frente o máximo que lhe era possível. Depois, apanhou a corda que fizera balançar e amarrou as duas extremidades. Quando lhe perguntaram como resolvera o problema, ele respondeu que acabara de sair de uma aula de Física sobre o movimento pendular. Apenas transferira o que aprendera em determinado contexto para ou­tro completamente diverso.

Este princípio também se aplica fora do laboratório. Uma amiga contou-me como conseguia que os seus dois filhos repartissem um bolo em partes exactamente iguais: «Digo­-lhes que um corta o bolo e o outro escolhe primeiro a parte que quer. Assim, quem corta fá-lo sempre pela metade, para não ficar a perder.»

Perguntei-lhe como lhe ocorrera essa ideia maravilhosa e ela respon­deu: «Foi num programa de televi­são sobre negociações internacionais que vi.» Para desenvolver a sua criativida­de, aprenda algo de novo. Se for banqueiro, aprenda sapateado; se for en­fermeira, tire um curso de Mito­logia. Leia um livro sobre um assunto de que saiba pouco; mude de jor­nal diário. O novo fundir-se-á com o velho em formas novas e poten­cialmente fascinantes. Para se tor­nar mais criativo basta dar atenção àquele fluxo de ideias infinito que a sua mente produz e aprender a agar­rar e a aperfeiçoar o que há de novi­dade dentro de si.

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