Como ter grandes ideias
À procura de grandes ideias
Aquilo que diferencia as pessoas comuns de Thomas Edison, Pablo Picasso ou até mesmo de Shakespeare não é a capacidade criativa, mas a aptidão para impulsionar essa capacidade, encorajando e desenvolvendo impulsos criativos. A maior parte das pessoas raramente atinge o máximo do seu potencial criativo. Creio que sei porquê e que posso ajudar a desaferrolhar esse reservatório de ideias que se esconde em cada um de nós.
Comprovei esta teoria no seu nível mais primário em pesquisas de laboratório com pombos: em experiências realizadas há alguns anos, eu recompensava-os com comida por subirem para uma caixinha e darem uma bicada numa banana de imitação que se encontrava suspensa sobre as suas cabeças. A seguir, ensinei-os a empurrar a caixa pelo chão e finalmente confrontei cada um deles com um problema: a banana foi suspensa fora do seu alcance, e a cerca de 45 cm do ponto imediatamente abaixo desta coloquei então a caixa.
Em tal situação, um pombo adopta um comportamento muito semelhante aquele que nós adoptaríamos. Ao princípio fica confuso, andando para trás e para diante, esticando-se em direcção à banana. Um ou dois minutos depois, começa a empurrar a caixa, parando exactamente no local adequado. Então, sobe para ela e alcança a banana para a bicada.
Se um pombo consegue fazer isso, imagine as possibilidades de cada um de nós. Um quebra-cabeças cuja solução observei foi o de alguns estudantes que precisavam de tirar uma bola de pingue-pongue que caíra no fundo de um cano de escoamento vertical fechado em baixo. Os meios de que dispunham ou eram demasiado curtos para alcançar a bola ou largos demais para caberem no cano, onde também não entrava mão alguma. Por fim, alguns deles fizeram a ilação «cano = água = flutuar». Deitaram água no cano e a bola flutuou até chegar ao cimo. Esta e muitas outras experiências tanto com pombos como com pessoas sugerem-nos formas concretas de fomentar a criatividade em todos nós. Aqui estão as melhores técnicas:
Agarre o transitório.
Uma boa ideia é como uma lebre: passa por nós tão depressa que às vezes só lhe conseguimos ver as orelhas ou a cauda. Para a capturarmos, é preciso estar mos alertas. As pessoas criativas estão sempre atentas a tudo e esta poderá ser a única diferença entre nós e elas. Numa carta a um amigo, em 1821, Ludwig van Beethoven narrava a forma como pensara num cânone enquanto dormitava a bordo de um coche. «Mas, mal acordei, o cânone já se desvanecera e eu não conseguia recordar nenhuma das suas partes.» Felizmente, para Beethoven e para nós, no dia seguinte e no mesmo coche, o cânone voltou-lhe à memória, e desta vez o compositor anotou-o.
Sempre que uma boa ideia venha ao seu encontro, anote-a, nem que seja na mão. Nem todas elas serão válidas, obviamente, mas o que interessa é agarrar a coisa primeiro e desenvolvê-la depois.
Sonhos diurnos.
O pintor surrealista Salvador Dali estimulava o seu potencial criativo deitando-se num sofá segurando numa colher. No preciso momento em que adormecia, deixava cair a colher em cima de um prato que tinha colocado no chão. O barulho acordava-o e o artista desenhava imediatamente as imagens que observara nesse mundo fértil do sono parcial. Todos passamos por esse estranho estado transicional e podemos tirar vantagens dele. Experimente o truque de Dali, ou permita-se apenas sonhar acordado. Na cama, no banho ou em qualquer outro sítio onde possa estar sem que os seus pensamentos sejam incomodados, verificará que as ideias vêm à tona quase espontaneamente.
Procure desafios.
Quando se está preso atrás de uma porta trancada, todas as acções que nos poderão libertar surgem rapidamente: empurrar ou puxar a maçaneta, bater na porta ou mesmo gritar por socorro. Os cientistas chamam ao recurso de recorrer a antigos comportamentos, numa situação de desafio, «ressurgência». Quanto mais atitudes ressurgirem, maior será o número de inter-relações possíveis, o que tornará mais provável a ocorrência de novas ideias. Experimente convidar para uma festa os seus amigos, colegas de emprego, gente oriunda das diferentes esferas em que vive. Junte pessoas de duas ou três gerações diferentes. Esse procedimento vai levá-lo a proceder de novas maneiras. Edwin Land, um dos inventores mais prolíficos dos EUA, atribuiu à sua filha de 3 anos a ideia que levou à criação da máquina Polaroid. Durante uma visita a Santa Fé, no Novo México, em 1943, a criança perguntou-lhe por que razão não podia ver a fotografia que o pai acabara de tirar. Ao longo da hora que se seguiu, enquanto Land andava por Santa Fé, tudo o que aprendera sobre química veio-lhe à cabeça, com resultados extraordinários. Conta o inventor: «A máquina e a película para fazê-lo tornaram-se claras para mim. Apareceram de uma forma tão real no meu pensamento que passei vá rias horas para descrevê-las.»
Coloque objectos novos e fora de contexto (como brinquedos infantis) na sua secretária. Mantenha sempre massa de moldar na gaveta de cima e mexa nela sempre que estiver a debruçar-se sobre um problema difícil. Vire as fotografias ao contrário ou ponha-as de revés. Quanto maior for a diversidade dos estímulos que recebermos, mais depressa a nossa mente inventará ideias novas.
Alargue os seus horizontes.
Muitos avanços na ciência, na engenharia e nas artes misturam ideias de campos diferentes. Veja o «problema das duas cordas»: duas cordas estão pendura das do tecto com uma boa distância entre si. Mesmo não conseguindo alcançar as duas ao mesmo tempo, será possível amarrar as suas extremidades utilizando apenas dois ali cates?
Um estudante universitário descobriu a solução quase de imediato: amarrou os alicates a uma das cor das e empurrou-a como se fosse um pêndulo. Enquanto esta balançava para trás e para a frente, correu para a outra e levou-a para a frente o máximo que lhe era possível. Depois, apanhou a corda que fizera balançar e amarrou as duas extremidades. Quando lhe perguntaram como resolvera o problema, ele respondeu que acabara de sair de uma aula de Física sobre o movimento pendular. Apenas transferira o que aprendera em determinado contexto para outro completamente diverso.
Este princípio também se aplica fora do laboratório. Uma amiga contou-me como conseguia que os seus dois filhos repartissem um bolo em partes exactamente iguais: «Digo-lhes que um corta o bolo e o outro escolhe primeiro a parte que quer. Assim, quem corta fá-lo sempre pela metade, para não ficar a perder.»
Perguntei-lhe como lhe ocorrera essa ideia maravilhosa e ela respondeu: «Foi num programa de televisão sobre negociações internacionais que vi.» Para desenvolver a sua criatividade, aprenda algo de novo. Se for banqueiro, aprenda sapateado; se for enfermeira, tire um curso de Mitologia. Leia um livro sobre um assunto de que saiba pouco; mude de jornal diário. O novo fundir-se-á com o velho em formas novas e potencialmente fascinantes. Para se tornar mais criativo basta dar atenção àquele fluxo de ideias infinito que a sua mente produz e aprender a agarrar e a aperfeiçoar o que há de novidade dentro de si.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
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